Sou professor no Sagradinha em Belo Horizonte. Minhas práticas educacionais sempre buscaram o alinhamento entre o desenvolvimento da leitura e da escrita na língua decolonial brasileira, o alargamento do pragmatismo sociocultural de cada aluno e a ampliação do repertório cultural por meio do multiletramento. Essa prática, devidamente fundamentada, é resoluta, e, aqui no colégio, se mostrou ainda mais promissora na acolhida franciscana de nossos alunos. Para tanto, foi necessário, dentre vários instrumentos pedagógicos, compreender a relação entre o audiovisual (cinema) e a educação, uma vez que todos nós nos tornamos, há muito tempo, seres midiáticos, com uma linguagem midiática e em uma vida cada vez mais “on-life”. Uma relação que já se estreita desde o início do século XX e ainda causa polêmica, estranhamentos, desejos…
O cinema – como um dos recursos do audiovisual – consegue conservar um ar de novidade ainda hoje em dia. Ele está para a forma de contar histórias, de representar comportamentos humanos, de dialogar com o espectador pela transformação do tempo em recursos metafísicos próprios dessa tecnologia. Já o audiovisual é um termo mais amplo, que abrange toda produção que combina som e imagem, como vídeos publicitários, institucionais, educativos e até mesmo, conteúdos para redes sociais. Assim, todo cinema é audiovisual, mas nem todo audiovisual é cinema. As diferenças estão nos objetivos, nos contextos de exibição e, principalmente, na experiência.
A experiência do cinema entrou, na sala de aula, no início do século passado. Quando os primeiros filmes chegaram ao Brasil, ganharam notoriedade devido a sua importância como meio de propagação e construção de ideias. Na contemporaneidade, a educação passou a olhar o audiovisual de outra forma. Se ainda há escolas que utilizam o audiovisual como forma de preencher os vazios provocados pelo sistema, como uma opção pela ausência de um professor, por exemplo, há outras escolas que o reconhecem para a formação de alunos midiáticos, compreendendo sua significância e rituais – não experimentais – para a formação de cidadãos mais conscientes de si e do outro. Dessa forma, promove-se o letramento da imagem em movimento, seguindo não só a BNCC, como a própria Lei 13.006, que inclui a exibição de filmes por, pelo menos, duas horas mensais em sala de aula.
O cinema contribui para a formação de sujeitos conscientes, críticos, participativos; cidadãos que compreendem a realidade em que vivem. Ao trazer a experiência do cinema para a sala de aula – e todo o audiovisual – o professor possibilita que o jovem possa criar instrumentos para intervir na realidade através do aprendizado que se enuncia no espectro de uma película, olhando para a imagem em movimento como ele olha para o mundo que o cerca, ou como ele olha para si mesmo, tornando essa experiência uma forma de descentramento e de transformação social. Por isso, é importante compreender o cinema como um catalisador da realidade, como um simulacro do que a existência humana recondiciona e “reprograma” a fim de questionar essa própria existência — num movimento ou de alter ego, ou de repulsa, ou de transformação, sobretudo potente! A ideia é que o aluno carregue consigo – ao tocar o sinal do término da aula – a metáfora questionadora e provocativa trazida pela narrativa cinematográfica. Com essas ações, o cinema pode alcançar formas inter– e transdisciplinar por meio de uma construção coletiva: travestida de entretenimento, mas investida de conhecimento.
O cinema não é um arauto de respostas, mas um instrumento contumaz no exercício dos “porquês”.
Espero que eu tenha contribuído!
Por professor Tony Charles Labanca
Atua no Colégio Franciscano Sagrada Família. É professor de Língua Portuguesa dos Ensinos Fundamental e Médio.
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