Na infância, cada descoberta é uma conquista. No ambiente escolar, as crianças pequenas encontram espaço para desenvolver habilidades que vão além do conhecimento acadêmico: elas aprendem a se perceberem como sujeitos ativos, capazes de tomar decisões e cuidar de si mesmas. Esse processo é chamado de construção da autonomia.
Mas afinal, como isso acontece na prática?
A autonomia não nasce de um dia para o outro, ela se constrói pouco a pouco, em gestos simples e cotidianos.
Quando escolhe brincadeiras, leva sua mochila até o lugar destinado, retira sua garrafa de água, ajuda a colocar a mesa do lanche ou organiza os próprios pertences, está exercitando responsabilidade, autonomia e autoconfiança. São ações aparentemente pequenas, mas que geram grandes aprendizados. Durante o brincar livre, a criança encontra um espaço privilegiado para exercitar sua autonomia de forma natural e espontânea. É nesse momento que ela decide o que fazer, com quem brincar, quais regras seguir ou criar. Ao assumir o controle da brincadeira, ela aprende a tomar decisões, lidar com frustrações, negociar com os colegas e persistir nas próprias ideias. O educador, por sua vez, tem o papel de observar, acolher e intervir com sensibilidade quando necessário, respeitando o protagonismo infantil. O brincar, portanto, vai muito além do entretenimento, é um terreno fértil para o florescimento da autonomia, da criatividade e da autorregulação emocional.
Outro exemplo está nas escolhas criativas: selecionar a cor que deseja usar em uma atividade, pintar, desenhar ou modelar de acordo com sua imaginação são oportunidades valiosas para que as crianças experimentem autonomia com responsabilidade. O educador, nesse caminho, orienta, incentiva e acolhe, mostrando que cada escolha tem valor e que o erro também ensina.
No ambiente escolar, especialmente dentro da proposta pedagógica da Rede Clarissas Franciscanas, a autonomia é cultivada em sintonia com valores como respeito, acolhimento, solidariedade, simplicidade e cuidado com o outro. Assim, a criança aprende que ser autônoma não significa agir sozinha, mas sim colaborar, compartilhar e se desenvolver em comunidade.
Quando uma criança organiza seu lanche ou participa da arrumação da sala, ela não está apenas “ajudando”: está sendo convidada a sentir-se parte de algo maior. Essa vivência fortalece sua autoestima, autonomia, amplia seu senso de pertencimento e prepara o coração para os desafios futuros.
Cultivar a autonomia desde cedo é oferecer à criança a chance de se desenvolver de forma integral, florescer em liberdade, mas sempre enraizada em valores que fortalecem as relações interpessoais. No Sagradinha, as crianças pequenas têm a oportunidade de exercitar sua autonomia nas interações sociais do dia a dia: quando expressam suas preferências, organizam ambientes, aprendem a esperar a vez, negociam brinquedos ou buscam resolver pequenos conflitos com os colegas. Dessa forma, a autonomia é compreendida não como um ato isolado, mas como uma construção conjunta, que valoriza a convivência e o cuidado com o próximo. É assim que elas aprendem, desde os primeiros anos, a caminhar com passos firmes, leves e cheios de sentido. Respeitar o tempo e o ritmo de cada criança, valorizando suas conquistas e oferecendo suporte sensível, contribui para formar indivíduos confiantes, autônomos e protagonistas de seu aprendizado.
Por Rayane Paulina Pereira de Oliveira
Atua no Colégio Franciscano Sagrada Família. É professora do Infantil 2.
Mini currículo da autora
Rayane Oliveira (Rayane Paulina Pereira de Oliveira) é pedagoga pela PUC-MG, pós-graduada em Necessidades Educacionais Especiais e Ensino Religioso (PUC-MG) e Psicopedagoga pela faculdade Ipemig. Atua desde 2010 na Educação Infantil e Anos Iniciais, com experiência em projetos pedagógicos, reforço escolar e acompanhamento de crianças com dificuldades de aprendizagem. Atualmente Sagrada Família para o infantil 2.