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Alfabetização e Letramento

A alfabetização é um processo que se inicia nos primeiros anos de vida da criança, imersa em um ambiente repleto de cultura escrita. Desde cedo, ela é exposta a um mundo letrado e incentivada a interagir com diferentes gêneros textuais, o que desperta sua curiosidade pelos símbolos da escrita. Esse contato inicial estabelece as bases para que a criança comece a compreender e explorar esses símbolos. A alfabetização, portanto, envolve a codificação e decodificação da escrita, e, à medida que a criança se apropria desses códigos, ela expande seu conhecimento e aprimora sua capacidade de comunicação dentro desse universo letrado.

O processo de alfabetização está intrinsecamente ligado à construção gradativa da escrita, exigindo do educador uma atenção cuidadosa a cada etapa do desenvolvimento infantil. É essencial o uso de estratégias assertivas para estimular avanços em cada fase. No início desse percurso, a criança aprende a codificar e decodificar, o que lhe permite, primeiramente, “aprender para ler”. Como destaca o Parecer CNE/CEB no 11/2010: “Os conteúdos dos diversos componentes curriculares […], ao descortinarem às crianças o conhecimento do mundo por meio de novos olhares, lhes oferecem oportunidades de exercitar a leitura e a escrita de um modo mais significativo” (BRASIL, 2010).

Nesse contexto, ao “descortinarem o conhecimento”, podemos nos referir à distância entre o que a criança já consegue realizar sozinha e o que pode alcançar com o auxílio de um professor mediador. No processo de alfabetização, isso se manifesta no suporte oferecido à criança para compreender as regras da escrita, em um ambiente que apresenta desafios apropriados ao seu nível de desenvolvimento. Ao explorar sua Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), conceito proposto por Vygotsky, a criança é motivada a construir novos conhecimentos, ampliando suas habilidades no domínio da leitura e da escrita.

Para garantir um acompanhamento efetivo e respeitoso do processo de desenvolvimento da criança, é fundamental compreender a psicogênese da língua escrita, teoria desenvolvida por Emília Ferreiro e Ana Teberosky, que descreve o processo de aquisição da escrita em quatro fases principais:

1. Pré-silábica: A criança ainda não entende a relação entre fala e escrita, utilizando grafismos ou desenhos sem valor fonético.
2. Silábica: A criança percebe que a escrita está relacionada aos sons das palavras, tentando representar cada sílaba por uma letra, como utilizar “C” para “casa”.
3. Silábico-alfabética: Nessa fase, a criança começa a decompor as sílabas em sons menores (fonemas), embora ainda cometa erros ao tentar combinar os sistemas silábico e alfabético.
4. Alfabética: A criança compreende que cada som da fala corresponde a uma letra ou grupo de letras, conseguindo escrever de forma convencional.

Na Rede Clarissas Franciscanas, desde a Educação Infantil, trabalhamos com a pedagogia de projetos para assegurar que as crianças desenvolvam um percurso contínuo de aprendizagem no universo da escrita. A prática pedagógica contextualiza a escrita, para que a alfabetização seja significativa e intencional, garantindo que as crianças construam gradativamente o conhecimento, desde as primeiras garatujas até a consolidação da alfabetização.

A intencionalidade pedagógica é um princípio fundamental no desenvolvimento da escrita. Desde cedo, as crianças são encorajadas a diferenciar os códigos da língua escrita e a utilizá-los de forma consciente e social. O processo de alfabetização é construído com base em competências e habilidades que promovem um ensino reflexivo, inserindo a criança no contexto das práticas sociais de leitura e escrita.

Para a verificação da aprendizagem, utilizamos instrumentos específicos para avaliação e acompanhamento da evolução das crianças em relação aos níveis de desenvolvimento da escrita. Esses instrumentos possibilitam perceber os avanços individuais na perspectiva de um monitoramento específico e muito bem planejado, buscando garantir a eficácia no processo de alfabetização.

Por meio de metodologias diversificadas, buscamos garantir que, ao final do processo de alfabetização, nossas crianças estejam aptas a codificar e decodificar de forma autônoma, consolidando o conhecimento de maneira reflexiva e contínua. Ou seja, elas transitam da fase de “aprender para ler” para a fase de “ler para aprender”. Assim, compreendem a funcionalidade do sistema de escrita e sua importância nas práticas sociais, tornando-se leitoras e escritoras competentes e preparadas para os desafios futuros.

Por Elizeth Gonçalves , Diretora do Colégio Franciscano Imaculada Conceição

Referências Bibliográficas:

BRASIL. Ministério da Educação. Parecer CNE/CEB no 11/2010, de 7 de abril de 2010. Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos. Brasília: MEC, 2010.
FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.
VYGOTSKY, Lev S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

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